Pacientes idosos que sofrem fratura de bacia, na grande maioria dos casos irão necessitar de cirurgia reparadora para sua recuperação. Estudos observacionais realizados anteriormente sugerem que a anestesia espinhal, nesses casos, apresentou maiores benefícios como a diminuição da mortalidade, diminuição de episódios de delírio, menor risco de complicações e alta hospitalar precoce quando comparado a anestesia geral. Porém, esses estudos sofreram muitas limitações, uma vez que foram realizados há mais de 30 anos e com uma amostragem pequena e não mais condizem com a realidade clínica e tecnológica dos dias atuais.

Nos Estados Unidos houve um aumento significativo da realização de bloqueio espinhal em pacientes submetidos a artroplastia de quadril, principalmente por se acreditar que esta técnica oferece maiores benefícios que a anestesia geral. Devido a isso, foi conduzido um novo estudo onde foi analisado a recuperação de pacientes submetidos a cirurgia de fratura de quadril, avaliando a capacidade de deambulação precoce e tardia após a cirurgia comparando os dois tipos de anestesia, anestesia espinhal e anestesia geral, em pacientes que deambulavam normalmente sem a necessidade de nenhuma ajuda antes do acontecimento da fratura.
Um estudo multicêntrico, randomizado foi realizado em 46 hospitais dos Estados Unidos e Canadá com 1.600 pacientes em idade acima de 50 anos, com média de 78 anos e fratura de quadril submetidos a procedimento cirúrgico para tratamento. Pacientes que não deambulavam sozinhos antes da fratura, necessitando de ajuda de terceiros ou de muleta foram excluídos do estudo, assim como pacientes que necessitaram de outro procedimento concomitante a fratura de quadril ou que apresentavam fratura em prótese prévia ou que tinham alguma contra indicação a realização de bloqueio espinhal.
O bloqueio espinhal foi realizado em 795 pacientes com injeção única de anestésico local e sedação para maior conforto do paciente e a anestesia geral foi realizada em 805 pacientes com agentes inalatórios para manutenção e ventilação mecânica e qualquer outra medicação que o profissional anestesista achasse necessário para o bem estar do paciente.
O primeiro parâmetro analisado foi o índice de mortalidade no período de até 60 dias pós operatório e a capacidade do paciente deambular sozinho por pelo menos três metros sem o auxílio de uma terceira pessoa ou de alguma muleta nesse mesmo período. O segundo parâmetro foi a presença dos dois parâmetos primários após 60 dias e a ocorrência de delírio durante a internação.
Nesse estudo randomizado, apesar de alguma limitações, não houve diferença significativa entre as duas técnicas apresentadas e não demonstrou que o bloqueio espinhal fosse superior a anestesia geral em relação ao índice de mortalidade e capacidade de retorno a deambulção normal, sem auxílio, no período de 60 dias pós operatório.
Uma vez que não houve diferença significativa entre os achados, o estudo sugere que a decisão sobre qual técnica anestésica é mais indicada para o paciente com fratura de quadril deve ser baseada na preferência do paciente uma vez que tanto o deambular sem auxílio como a não ocorrência de delírio é uma das maiores peocupações encontradas entre esses pacientes e seus familiares.
Fonte:
Pebmed
- Neuman MD, et al.Spinal Anesthesia or General Anesthesia for Hip Surgery in Older Adults.N Engl J Med 2021; 385:2025-2035.November 25, 2021. doi: 10.1056/NEJMoa2113514